quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Doce



Já estava enjoada daquela mesma música, que tocava num "looping" repetitivo demais no iPod novo. Remexia lentamente o chocolate quente, que não parecia boa pedida mesmo que o dia estivesse frio. Olhou em volta procurando a garçonete, como se ela soubesse lhe dizer o que fazer naquela tarde tediosa e chuvosa de sexta-feira, mas é claro que a idéia parecia boba demais. Observou um carro estacionado do outro lado da rua, um que não estava ali não faziam dois segundos. Que fosse...
A curiosidade de uma futura arquiteta se voltava novamente ao prédio alto que residia no bairro agora, analisando minuciosamente os detalhes das colunas e os vidros escuros que abrigavam executivos egravatados, ora...Não gostava de uniformes, não gostava de engravatados, ou melhor, deveria ser sufocante ter algo lhe amarrando o pescoço o dia inteiro!E nos dias quentes?Como seria ficar numa sala fechada, engravatado e com outros homens engravatados?
Riu por fim, vendo um "fora de padrões" entrar na confeitaria cheia, com o casaco nas mãos e um copo "Everlast proteico" na outra.
-Doce?
-Sim, morango!E com cobertura extra.
Era um menininho de traje adulto!Pra falar a verdade, não passava dos vinte.
-Aqui está, moço!Torta de morango.
E ele perdia-se nos açucares esparramados no prato para logo depois procurar um lugar onde pudesse saborear cada cristal daquele pedaço de céu!
Não haviam sobrado lugares, a não ser o da cadeira a sua frente.
-Posso me sentar aqui?
-Acho que sim...
O sorriso dele era lindo!
-Já faz meia-hora que está remexendo esse chocolate.
-Aonde estava essa meia-hora?-riu divertida.
-Faço estágio aqui do lado...Vi você de lá, perdida, meio entediada.
-Hum, e o que tirou de conclusão?
-Que tardes chuvosas de sexta-feira com chocolate quente não são uma boa pedida para você.
-Certo.
-Torta de morango?
-Não, obrigada!
Estalou os dedos, trazendo a garçonete para perto.
-Bolo de chocolate.
-Trago num minuto.
-Não sou o único querendo doces por aqui.
-Ah é sim!Não costumo idolatrar açucar Luca!
-Errado, se eu quisesse mesmo doce, teria pedido vc...
Ele não se cansava?
-Ah, isso sim seria uma boa pedida...Bolo de chocolate?
-Não obrigado, açucar demais estraga, vicia.
-Será mesmo?
Trocou um olhar desafiador, vendo-o tomar a conta das mãos da garçonete.
-Eu pago pra voçê, afinal, pra que servem os primos?
-Para dar em cima das primas?
Remexia compulsivamente o líquido doce outra vez.
-Sim!Mas servem também para dar carona.
-Só se pudermos antes passar no aeroporto para comprar chocolates importados e Toblerones gigantes.
-Mania de doce, priminha.
-Doce vicia.
-Que nem você...

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